10 agosto, 2005

Dos empregos, ou dos trabalhos em que me meto

Deixei o meu emprego anterior com muita pena, mas também com a alegria de saber que iria fazer algo que gostava mais e onde tinha mais possibilidades de evoluir na carreira. Hoje trabalho mais perto de casa, com crianças nas escolas. Estava antes num lar de idosos numa zona rural, a fazer um trabalho que não era o que me agradava mais, mas com afinco (Confesso, que no mês antes do casamento não o fiz. Melhor dizendo, acho que quase não trabalhei, apesar de lá estar).
Hoje gosto bastante do que faço, das crianças e dos professores com que trabalho. Sinto que tenho mais oportunidades de evolução, que estou a aprender muito e regozijo-me por isso. Vou almoçar quase sempre a casa e não existe comparação entre trabalhar a 5 Km de casa ou a 40 Km como antes. Tenho mais tempo para as coisas da casa, consigo ir ao supermercado à hora de almoço e tratar de muito mais.
No entanto, há coisas de que sinto falta, principalmente das colegas de trabalho, com quem criei uma empatia muito grande. Almoçávamos sempre juntas, aquelas comidas maravilhosas do campo e o café era a melhor altura do dia de trabalho. Conversávamos muito e foram elas que me ouviram todos os dias a falar do casamento, do belo do casamento. Aprendi a ver a vida com outros olhos, a relativizar tudo, ao ver a força de uma amiga com cancro aos 27 anos.
Também sinto falta dos utentes do lar, que me ensinaram tanto, da D. Francisca que tentou, em vão, ensinar-me a tricotar e das consultas de Psicologia, que acabavam com as lágrimas deles pela vida que já tinha passado “aqui espera-se a morte, pois se não há mais nada a fazer”. É um mundo diferente o dos idosos, constantemente ignorado neste país à beira-mar plantado (o deles não está de modo algum à beira-mar, é muito mais interior, profundo, enterrado e esquecido).
E o meu gabinete, que bom que era, com internet e uma secretária só para mim! Hoje deparo-me com as condições físicas da função pública, que são, pelo menos para mim, bastante inferiores. E todo o ambiente de trabalho é muito mais diz-que-disse e “olha-me aquela”, rematada por uma bicha tonta (que é igual ao Nelo do Herman, acreditem) que gosta de improvisar karaokes da Romana e da Ágata “sou mãe solteira lairairai”.
Acabo por sentir então saudades desse campo, tantas que pela primeira vez, sonhei esta semana com o lar e que o utente mais antigo tinha morrido. O Sr. Francisco ainda andava, estava perfeitamente lúcido, tinha 99 anos, e ainda dava o seu pézinho de dança. Estava só um bocadinho surdo. Nem sei quantas vezes lhe dei o braço nos passeios cá fora. Resolvi telefonar para saber como estavam todos e das primeiras coisas que me dizem é “olha, o Sr. Francisco morreu acreditas?”.
Só me falta ser bruxa. Com esta pontaria toda, qualquer dia estou nos classificados do Correio da Manhã ao lado do Professor Bambo.

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