26 novembro, 2004

Pais e Filhos

Num almoço de amigas, ali para os lados de Santa Apolónia, fala-se do de sempre. Quem é que educa hoje os filhos? Serão os pais, será a escola?
Vivemos numa sociedade em que as pessoas parecem ter filhos porque sim, não tendo tempo, nem disponibilidade psíquica para os petizes (também à custa, muitos deles, de empregos filhos-da-puta que lhes exigem todo o tempo do mundo, como se a maternidade/paternidade fosse um capricho), que à medida que vão crescendo, e confrontados com a incapacidade dos mesmos pais lhe imporem regras e limites, por culpabilidade inconsciente em relação a essa falha e também porque castigar e dar as regras é "traumatizar as criancinhas, coitadinhas", começam a impôr-se como ditadores de palmo e meio, que não aceitam um "não", que não respeitam o outro e que acham que podem tudo. Quantos de nós já não viram crianças, mesmo muito pequenas, que parecem mandar na vida dos pais, e pais que afirmam "ele agora quer isto (imaginemos, um telemóvel XPTO), e tenho que ver se lhe compro, porque o amigo já tem e ele não pode ser menos que o outro".
Ora, as crianças, como se calcula, precisam de figuras de referência (pais, avós, tios, professores), que lhes mostrem que não podem tudo, que existem regras, que vivemos em sociedade, não girando o mundo necessariamente à sua volta.
Para que o mundo destas crianças não se torne um caos interno (em que não percebem qual o seu papel, porque afinal quem devia ter o poder maior são os pais e não eles, como acaba por acontecer) e o dos pais um caos externo (em que não conseguem controlar os filhos e se sentem impotentes perante uma situação que não parece ter fim), é fundamental que os pais amem, cuidem, confortem e protejam os filhos, mas que também lhes saibam dizer "não", mostrando-lhes que gostar não é igual a dizer que sim a tudo.
E, por favor, (lembrando novamente casos da conversa ao almoço) não tenham filhos para que seja o infantário, ou a ama, a dar-lhes o jantar, o banho e o mimo, porque "isso dá muito trabalho e é aborrecido quando se chega de um dia de trabalho". Qualquer dia, Portugal é um país de "famílias de acolhimento" (mais ou menos como aqueles que vão buscar as crianças às instituições para passar a Noite de Natal, achando-se melhores pessoas por isso (!), mas isso são conversas para depois), que apenas está com as crianças quando elas não chateiam, fazendo as amas, creches, infantários e escolas, o papel que compete aos pais. Obviamente, que não estou a falar daqueles que trabalham 14 horas por dia para dar de comer aos filhos, e sim, daqueles workaholics, endinheirados, que, se não vão mais cedo para casa ou se não tratam dos filhos, deixando essa tarefa a cargo de terceiros, é porque tal também não lhes dá especial prazer.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sendo uma das amigas que estava a almoçar, acho que resumiste muito bem aquilo que falámos.

Vamos ver se conseguimos fazer alguma coisa para mudar estas mentalidades :) O que achas?

Beijinhos da Rita

Susana disse...

Pois é. Parece-me que os psicólogos vão sendo cada vez mais importantes na ligação entre filhos, pais e escola.